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segunda-feira, 2 de julho de 2012

POR QUE ESCREVER?

Por que escrever?
Essa é A Pergunta. Pra ela só é possível dar uma resposta pessoal, estrita, não generalizável. Portanto, se vou escrever a respeito, só poderei falar de mim mesmo, ainda que use essa ou aquela citação de grandes ou "pequenos". Chego a crer que seria covardia analisar e/ou interpretar a resposta dada por outro, sem falar da minha própria.
Pois bem. Vou fazer um pouco da primeira (a covardia), e outro da segunda (a minha própria).
Carlos Drummond de Andrade, num fragmento de entrevista publicado no modesto volume O sorvete e outras histórias, aconselha o jovem que quer ser escritor a "só escrever quando não puder deixar de fazê-lo, e sempre se pode" (grifo meu). Considerada por um lógico, tal frase seria tomada por uma incitação a não escrever, "macarronizada":

(1) só escreva quando não puder deixar de fazê-lo
(2) sempre se pode deixar de fazê-lo
(3) conclusão: nunca escreva

Existe, no entanto, um campo dos estudos linguísticos chamado Pragmática, que tem por objeto o uso que se faz da língua, os valores das palavras e sentenças, em relação aos contextos. Pragmaticamente, Drummond não está aconselhando a não escrever, mas sim a postergar ao máximo o ato da escrita, até se atingir um ponto de maturação. Ele diz, na verdade (muito drummondianamente): só escreva quando o texto for uma ordem.
Cabe perguntar se o poeta aplicava esse princípio na própria rotina de escritor, premido por compromissos vários. Acredito que não. E vou além: não me parece que alguém que viva da escrita possa aplicá-lo. Quem escreve, profissionalmente ou no encalço de, precisa insistir, precisa suar um bocado diante da tela do computador, da máquina de escrever, etc., pra chegar a produzir algo apreciável. Poder ficar matutando, esperando o ponto de ebulição, é um privilégio, e além disso, algo contraproducente. Mas guardemos a ideia, por enquanto.
Voltando à pergunta que dá início a este texto, creio que podemos dividi-la em duas: Por que começar a escrever? e Por que continuar a escrever?
Agora vou falar de mim.
Comecei a escrever após perder o emprego, e passar meses em casa mergulhado nos mais profundos tédio e angústia. Isso foi há nove anos. Foi o estopim.
Mas devo dizer que alimento o sonho de ser escritor desde a adolescência, desde o começo dela. O que acontecia é que eu priorizava meus empregos, meu ganha-pão. Não tinha tempo nem energia pra produzir nada além disso. Assim... sem emprego, e sem muita alternativa, comecei: poesia, e contos. Ambos autobiográficos. Sim, e ao que vejo, muito comum: a autobiografia foi meu ponto de partida.
Ou seja: Por que comecei? Porque tinha tempo, desejo, e angústia suficientes para tanto. Primeiro ponto.
Quanto a continuar a escrever, pra mim é mais difícil tratar dessa questão, pois embora tenha produzido já bastante, ainda não publiquei quase nada, portanto sou ainda um iniciante. Muito simplesmente, continuo a escrever porque considero o que faço bom, e porque sonho poder viver disso. E claro: o tédio e a angústia seguem marcando presença. Segundo ponto.
Processualmente - tomemos aqui a ideia guardada - a coisa acontece numa barafunda, com trechos drummondianos (algo, como disse, muito raro), uma tremenda confusão: uns poucos textos eu matuto por meses e meses (os mais longos), outros saem a toque de fábrica, começo um e interrompo outro, interrompo o um e dou continuidade ao outro.
Respondendo, então, à segunda pergunta: continuo a escrever, em meio a essa barafunda, porque não sei mais deixar de fazê-lo. Seria uma ordem? Talvez.

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