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terça-feira, 14 de agosto de 2012

DE LETRAS E NÚMEROS

Gente das Letras não gosta de números, certo?
Errado. Eu gosto. Amo. Na verdade, tenho uma espécie de patologia numerológica: meço, cronometro, conto, levanto médias o tempo todo. E o que é, talvez, mais curioso: associo a paixão por medições e números em geral com a paixão por livros e pela leitura. De que modo?
Assim:
Comecei querendo saber quantos livros eu lia por mês (pensado em saber quantos lia por ano). Isso em mente, comecei a anotar num arquivo do Word cada leitura que eu fazia. Vi, então, que variava muito, e o que dificultava mesmo uma interpretação era a enorme variedade de formatações e tamanhos de livros. Assim, precisava saber quantas páginas eu lia por mês; era mais exato. Variava menos, mas ainda assim variava. Ou seja, há páginas, e há páginas: umas são um pouco maiores, com letrinhas mais miúdas, outras são pequenas e com letras generosas, outras ainda são pequenas com letras pequenas (ainda não encontrei as grandes com letras grandes. Por enquanto trata-se apenas de uma hipótese, provavelmente verificável junto à literatura infanto-juvenil, coisa de que estou afastado há anos). Como era mais fácil, fui marcando as quantidades de páginas lidas por dia: em média 80. Bom, 80 x 30, são 2400 páginas por mês. 2400 x 12, são 24480 páginas por ano. Considerando uma média de 300 páginas por livro, são 81,6 livros por ano. Fazendo a conta com livros, e não páginas, em toda a sua variedade já referida, a média encontrada é bem próxima dessa. Ou seja: procede.
Problema resolvido?
Mais ou menos.
Falta confessar uma outra paixão: a administração. Sou como o Pantocha da versão cinematográfica de Pantaleão e as visitadoras: logo, logo estabeleço metas. Assim, tenho como meta ler 80 páginas por dia. Para deixar minha administração mais rica e precisa, medi o tempo de leitura: para dez páginas ideais, 25 minutos. Como esse é o tempo necessário para começar a correr os olhos pelas linhas pensando em outra coisa, fixei minha rotina de leitura em unidades de dez páginas, a cada sentada. Conclusão: sento para ler oito vezes por dia, espalhadas entre outros afazeres, em geral domésticos.
Cabe, agora no fim, lembrar aqui do Rui Zinq, escritor português que conta a seguinte história: estava ele num hotel na Itália (ou em lugar parecido), sem muito que fazer, e estabeleceu, militarmente (como ele mesmo classificou), que leria o Ulisses de Joyce em inglês, a quarenta páginas por dia. Leu. Quarenta por dia. E: não reteve, não apreciou, não cresceu, nada. Diz ele que por ter sido tão "militar". Me perguntarão, então: como vc faz, sendo exageradamente "militar"?
Respondo: é melhor o Rui Zinq e eu não nos encontrarmos em guerra, em lados opostos.